O céu rasgado de azul...
O céu rasgado de azul, trespassado por mil mastros, faz-me lembrar o tempo em que chegava aqui nauseada ou verdadeiramente bem disposta, depois de uma manhã de rio; mãos feridas por cabos retesados pelo vento... Os restaurantes dos clubes enchem-se de gente e eu vou passeando por entre bicicletas e trotinetes eléctricas, pensando em ti e em ti. Todos os meus mortos e os meus fantasmas comigo.
De caminho, cruzei-me com aquela que fui há 7 anos, num parque de tonalidades amarelas algures entre a Europa e a Ásia. A prudência atirada de fresco pela janela, a dar boleia a 3 pessoas que a pediam no passeio.
Parada no semáforo, com a música a preencher o vazio do lugar que deixaste ao lado, a mão de fora da janela a sentir a brisa refrescante deste apressado primeiro dia de Verão, ouvi perguntarem-me se podia dar boleia até ao Mosteiro dos Jerónimos. E porque não? A coisa mais segura, apesar de difícil, foi escolher-te a ti... e onde é que isso me levou? Com as mãos que teria posto no fogo por ti completamente queimadas até aos ossos, porque não?
Continuo viva. Continuo sem conseguir largar-te a mão, como se em algum universo paralelo estivéssemos assim.
Um dia talvez te consiga perdoar. A ti e a ti.
Todos os meus mortos com todos os meus fantasmas.