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com a cabeça entre as orelhas

com a cabeça entre as orelhas

30
Jun19

Estou cansada de ser diferente.

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Estou cansada de ser diferente.

Reinventei-me quando tive a oportunidade de estagiar fora do país. Tinha um corpo e um nome e podia ser quem quisesse. Não tinha passado. 

Dez anos mais tarde reinventei-me numa viagem em busca de mim. Tinha um corpo e um nome. Mais rugas. Um olhar mais brilhante à custa das lágrimas. Ainda assim quem quisesse; ainda assim sem passado.

Reencontrei-me, no final das duas viagens, com o eu que deixei em casa.

Não sei como reinventar-me neste contexto. Não sei como fugir a todas as suposições que os outros fizeram da máscara que usei. Não sei reiniciar o sistema e, parece-me a mim, que a vida vai avançada. 

Estou cansada de ser diferente, mas está provavelmente na altura de fazer as pazes comigo e abraçar a criança que ficou lá atrás a chorar. Ninguém saberá cuidar dela melhor que o adulto em que se tornou.

 

(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) - Álvaro de Campos, Tabacaria

27
Jun19

Estou aqui.

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Estou aqui. Entre músicas. Entre compassos. Entre pausas.

Entre mim e eu. Entre tu e ela. Entre ontem e hoje.

Entre tudo o que não sei o que será e tudo o que sei que dói.

Entre tudo o que te magoei e tudo o me magoaram depois.

Entre o perfeito equilíbrio do universo numa pessoa em um ponto no espaço e no tempo.

Entre os copos que não bebo na bebedeira sóbria da vida.

Estou aqui.

 

That my feet don’t dance like they did with you.

26
Jun19

Feliz. Segura. Bem. Em paz.

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Feliz. Segura. Bem. Em paz.

Hoje é o centésimo dia. Meditação diária, umas vezes mais bem sucedida que outras. 

Uma em concreto marcou-me; pela dificuldade. Não recordo já se imposta pela voz que guia a meditação ou se por mim. 

May I be happy. May I be safe. May I be well. May I be at peace.

Repetido. Eu. Os meus. E depois a parte que não recordo se me impus ou foi sugerida: tu. Conseguir desejar-te o mesmo... apesar da dor. Muito difícil.

25
Jun19

Não sei...

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Não sei o acto físico de desaparecer.

Esperando o suficiente acontecerá a todos. Não é possível evitá-lo, tão somente uma questão de tempo. Hoje. Amanhã.

Poderá ser natural amanhã e, portanto, porquê antecipar? Poderá ser natural dentro de 50 anos e, aí, como sublimar?

Foco na ideia de que tudo passa, até a vontade imensa da escuridão.

Porquê a necessidade de validação externa à existência, se aquela nunca virá e esta é incontornável e independente do resto?

Amanhã. Até lá, ser o melhor possível, no mundo possível, ajudando a humanidade possível.

22
Jun19

Há cerca de 19 anos...

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Há cerca de 19 anos atrás foi lançada a na altura polémica série canadiana “Queer as Folk”.  Viria a animar-me os dias durante uma fase de vida menos boa. Creio ter sido o meu primeiro contacto com a palavra “queer”. 

Quando as 5 temporadas chegaram ao fim, senti a falta das personagens como se fossem família, como se as suas histórias pudessem vir a ser a minha. 

À parte o sexo e as drogas, surgiam também as ideias de casamento, adopção, técnicas de reprodução medicamente assistida e todo um mundo de possibilidade e esperança para quem crescera numa altura em que não era aceite ser-se diferente.

Não consegui desfazer-me dos DVDs da série durante o meu desafio minimalista. Todos os outros, menos estes. Foram a minha alegria, a minha esperança, o meu crescimento.

Hoje tropecei  nas “Histórias de São Francisco”; com questões de género e outras que, em tempos, não eram trazidas a público. 

O que me prendeu foi a resposta inicial da aniversariante à pergunta do que tinha ou não mudado em São Francisco nos últimos 60 anos. Não muito...

We’re still people - aren’t we? - flawed, narcissistic... and doing our best!

Histórias de São Francisco.

21
Jun19

O tempo ou a noção do mesmo.

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O tempo ou a noção do mesmo.

Hoje é o dia mais longo do ano. O mais longo sozinha. Mas, dado tempo suficiente, não há nada que não seja um mero piscar de olhos na eternidade, que o tempo tudo apaga, até quem poderia vir a ter memória  dele.

Não sou de lembranças profundas ou distantes, mas assumo alguma ansiedade perante a ideia deste tempo todo não ser tempo nenhum. A inexorabilidade de todas as mudanças e esquecimentos. De ser tudo normal, tudo banal, tudo mortal. 

E eu onde? E eu quando? Em que função? Para que fim? “What brings no benefit to the hive brings none to the bee”, pode ler-se no livro sexto das meditações. A abelha, porém, não sabe que existe tempo a pensar ou a perder.

Continuo a não acreditar que fingirmo-nos irracionais resolva a ansiedade que a realidade da existência humana pode acarretar para alguns. Partilhando mais talvez fosse menos tempo o tempo do desespero.

 

How swiftly unending time will cover all things, and how much it has covered already! - Marcus Aurelius, Meditations

 

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19
Jun19

Estou hoje fragmentada.

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Estou hoje fragmentada. Dispersa em sentidos vários sem direcção evidente. A submersão iminente no caos fundido como alumínio.

Não sei ao certo nomear as minhas amarras, mas sinto-as próximas, a infiltrarem-se, apagando aos poucos o hoje feito ontem.

Ah, África! O quanto me purgas a alma. Pudesse eu voltar a estar aqui e acolá ao mesmo tempo.

Resta-me a consciencialização de todas estas emoções, tão inúteis quanto passageiras, trazendo-me de volta ao que é, agora.

18
Jun19

Não li uma única linha...

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Não li uma única linha do livro Meditations durante as férias.

Ia preparada para lidar com a minha solidão e enfrentar os meus demónios, mas o que encontrei foram gargalhadas sinceras às refeições e apoio genuíno nos intervalos. 

O mais que mantive diariamente foram as minhas meditações, a eterna lista de gratidão e as reflexões escritas (não as que aqui deixo).

Marco Aurélio ficou de parte até hoje, de regresso à assépsia da (suposta) civilização. E, de repente, fez-me sentido a insistência de Séneca em relação à filosofia; porque, ao ler, senti-me num outro recanto de mim, tranquilo, com sabor a lar.

Uma passagem marcou-me: “Death is a rest from the recalcitrance of sense, and from the impulses that pull us around like a puppet, and from the vagaries of discursive thought, and from our service to the flesh.”

Death is a rest. Death is a rest.

Voltei àquele quarto igualmente asséptico, ao olhar tranquilo do meu pai ao dizer-me “Tu não chores que eu vou só descansar”. E assim foi.

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