Perdi-me no espaço de 5 luas.
Perdi-me no espaço de 5 luas.
Afastei-me das minhas razões à procura do esquecimento.
Todas as cores do Universo com a perspectiva do abismo.
Estou de regresso à origem, na corda bamba do preto e branco.
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Perdi-me no espaço de 5 luas.
Afastei-me das minhas razões à procura do esquecimento.
Todas as cores do Universo com a perspectiva do abismo.
Estou de regresso à origem, na corda bamba do preto e branco.
E depois deixei de esperar.
Quando decidi tentar aprender a dançar ao ritmo de emoções desconfortáveis.
Porque li que a coreografia é uma estratégia de coping. Umas músicas não são melhores que outras, só não as podemos dançar a todas da mesma forma.
Nesse dia apareceste.
E eu deixei de esperar.
Não consigo. Ainda não.
Cada passo dado dois apagados.
Mantenho o olhar no horizonte, perdido, esperando deixar de esperar.
Falta sentir os sentidos.
Saber a que sabias quando te ouvia. Saber o aroma quando te via. Saber o calor da pele numa noite fria.
Como fumo que se esfuma num olhar, falta-me saber o que dantes sabia.
Decifrei a regra dos terços.
Se me posicionar exactamente no terço médio consigo dormir.
Já sei dormir nesse intervalo da cama.
Sem espaço para ti; sem margem para cair.
É mais fácil aceitar que x deixou y por 2x. É mais fácil escolher lados. É mais fácil tomar partidos.
Mas ninguém esteve lá. Ninguém esteve lá quando x, durante 4 anos, teve que sair de casa mais cedo para não se cruzar com a empregada doméstica; ninguém esteve lá daquela vez que x teve que se despachar à pressa e sair pelas escadas para não se cruzar com z. Ninguém esteve lá quando y e x decidiram tentar novamente, sabendo que seriam necessárias mudanças. Mudanças que existiram, na fórmula de w, mas que se ficaram por aí. Ninguém esteve lá quando x teve como resposta de y “não me faças escolher...”, guardada nas reticências a certeza de que a escolha não recairia em x. Ninguém lá esteve.
Mesmo quem lá esteve descarta, com um sacudir de ombros, tudo isso como estando de acordo com o eixo do seu tempo. Não creio sequer que tenha compreendido - ainda hoje - a dor profunda, as cicatrizes do passado que esses “nadas” abriram. Nenhum reconhecimento genuíno pela dor provocada.
A fórmula matemática de 2 vidas em 1 relação é bem mais complexa. É mais fácil, portanto, compreender esta simples “verdade”: x deixou y por 2x. E isso faz com que x não queira fazer parte desse conjunto.
Quando b entrou na equação e prometeu, sem cumprir, o que y nunca prometeu, houve um sorriso escarninho de vitória. Sem que se tenha detido, por um instante, na mágoa que esse sorriso provocou. Na conclusão: - Quem quer que encontres, o que quer que te prometam, x, nunca será real ou completo. E isso magoa pela constatação em si e pela ausência de consideração pela dor inerente a essa cruel verdade.
I was already missing before the night I left
Just me and my shadow and all of my regrets
Parece-me a mim que não és senão inconsequente; egoísta; oca.
Do teu silêncio, brevemente entrecortado pelas lágrimas ácidas que choras, não nasce nada. Nunca nada.
Já não consigo justificar-te as faltas, as omissões. Não consigo justificar a minha demência por algo tão desprovido de sentido.
Que nunca me esqueça do grande auditório numa manhã de verão com cara de outono.
A patética na estante do piano, professor e aluna discutindo a divisão do tempo, as articulações das frases, quando entra uma cara de outros tempos, de violino na mão, a surpresa pelo auditório com gente.
As hesitações e o silêncio entre as partes, interrompidos por:
- Preciso de um lá!
- Um lá!, respondi tocando... E assim soou; e assim seguiu, violino na mão com a corda afinada.
Possa a vida ter sempre a leveza de uma nota.
De cada vez que alguém, com ar vencedor, anuncia ter enganado a morte em determinada altura, eu pergunto-me como é possível essa sensação. Não a de ter adiado o inevitável, mas a de invencibilidade. Só me sinto invencível quando decido o que fazer com cada um dos meus instantes, agora. Precisamente por reconhecer, reflectir e aceitar a constante mudança de estados até que o estado seja nenhum.
Saber que a morte é certa e reflectir sobre o que isso diz da vida é uma capacidade única do ser humano, racional. Ainda assim, tantas vezes se prefere o pacto de silêncio como se, ignorando a paragem final, ela passasse por nós como todas as outras que se vêem pela janela de um combóio que não se detém.
Reconhecer - em consciência - a existência de um fim, ainda que não se saiba quando, dá-nos a capacidade de viver uma vida melhor. Mas basta um olhar em volta e encontram-se objectivos: o que alcançar; como alcançar; quando alcançar. Com a importância de algo capaz de permitir o acesso à vida eterna, uma vez atingido. Raramente se ouvem as perguntas: “porquê?”, “com que sentido?”, “para que fim?”.
Como o rei-filosófo de Platão advoga, nada que seja proveniente de uma natureza universal poderá ser mau na sua essência, mas apenas nos nossos julgamentos sobre aquela. A morte é uma dessas partes do todo. Porque não permitir o diálogo sobre ela? De forma a permitir uma saída de cena digna, sem (com menos?) arrependimentos.
As noites, acompanhadas pelas minhas inseguranças, transportam a saudade aos dias. Dos traços. De como eram antes da borracha da vida lhes passar por cima.
Mesmo em sonhos conscientes, as patranhas que repito a mim mesma não me afastam do lodo.
A espiral é eterna, descendente, de volta ao princípio.