Perdi-me no espaço de 5 luas.
Perdi-me no espaço de 5 luas.
Afastei-me das minhas razões à procura do esquecimento.
Todas as cores do Universo com a perspectiva do abismo.
Estou de regresso à origem, na corda bamba do preto e branco.
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Perdi-me no espaço de 5 luas.
Afastei-me das minhas razões à procura do esquecimento.
Todas as cores do Universo com a perspectiva do abismo.
Estou de regresso à origem, na corda bamba do preto e branco.
E depois deixei de esperar.
Quando decidi tentar aprender a dançar ao ritmo de emoções desconfortáveis.
Porque li que a coreografia é uma estratégia de coping. Umas músicas não são melhores que outras, só não as podemos dançar a todas da mesma forma.
Nesse dia apareceste.
E eu deixei de esperar.
Não consigo. Ainda não.
Cada passo dado dois apagados.
Mantenho o olhar no horizonte, perdido, esperando deixar de esperar.
Falta sentir os sentidos.
Saber a que sabias quando te ouvia. Saber o aroma quando te via. Saber o calor da pele numa noite fria.
Como fumo que se esfuma num olhar, falta-me saber o que dantes sabia.
Houve uma época em que via televisão.
A essa época seguiu-se uma morte. Não o instante, que esse é rápido, mas o processo de morrer nem sempre é brusco. Um dia aqui; um dia não.
Nesse processo deixei de ver o telejornal. Parecia-me sinistro, ainda que extraordinário, que num planeta tão grande só conseguissem noticiar catástrofe, tristeza, miséria. Hoje, as notícias que leio são as que escolho ler. Não sou invadida à hora do jantar pela angústia de tudo o que não posso mudar no mundo.
Em determinada altura vi programas que não tinham outro intuito senão o de me manter num estado de estupor, passando o tempo sem analisar a vida. Numa dessas tardes terei ouvido a Oprah Winfrey falar num “diário da gratidão”.
Desde essa altura que o faço, falhando o registo num ou noutro dia, mas não o hábito porque esse foi adquirido e tornou-se parte de mim. Consigo sempre encontrar três coisas pelas quais estar agradecida. Mesmo nos dias em que não sei se o que me molha a cara é a água do duche, da chuva ou as lágrimas. Mesmo nas noites de insónia, quando sei que são as lágrimas o que tenta forçar caminho contra as pálpebras teimosamente cerradas.
A presente época é de mudança de hábitos, porque a definição de loucura é repetir a mesma coisa variadíssimas vezes esperando um resultado diferente.
Ver menos televisão foi uma das mudanças. Com mais séries à disposição que horas num dia, optei pela leitura. Pela meditação. E foi assim que hoje relembrei a Oprah Winfrey, do outro lado do mundo, a iniciar-me no diário da gratidão.
Let not your mind run on what you lack as much as on what you have already - Marcus Aurelius
Decifrei a regra dos terços.
Se me posicionar exactamente no terço médio consigo dormir.
Já sei dormir nesse intervalo da cama.
Sem espaço para ti; sem margem para cair.
É mais fácil aceitar que x deixou y por 2x. É mais fácil escolher lados. É mais fácil tomar partidos.
Mas ninguém esteve lá. Ninguém esteve lá quando x, durante 4 anos, teve que sair de casa mais cedo para não se cruzar com a empregada doméstica; ninguém esteve lá daquela vez que x teve que se despachar à pressa e sair pelas escadas para não se cruzar com z. Ninguém esteve lá quando y e x decidiram tentar novamente, sabendo que seriam necessárias mudanças. Mudanças que existiram, na fórmula de w, mas que se ficaram por aí. Ninguém esteve lá quando x teve como resposta de y “não me faças escolher...”, guardada nas reticências a certeza de que a escolha não recairia em x. Ninguém lá esteve.
Mesmo quem lá esteve descarta, com um sacudir de ombros, tudo isso como estando de acordo com o eixo do seu tempo. Não creio sequer que tenha compreendido - ainda hoje - a dor profunda, as cicatrizes do passado que esses “nadas” abriram. Nenhum reconhecimento genuíno pela dor provocada.
A fórmula matemática de 2 vidas em 1 relação é bem mais complexa. É mais fácil, portanto, compreender esta simples “verdade”: x deixou y por 2x. E isso faz com que x não queira fazer parte desse conjunto.
Quando b entrou na equação e prometeu, sem cumprir, o que y nunca prometeu, houve um sorriso escarninho de vitória. Sem que se tenha detido, por um instante, na mágoa que esse sorriso provocou. Na conclusão: - Quem quer que encontres, o que quer que te prometam, x, nunca será real ou completo. E isso magoa pela constatação em si e pela ausência de consideração pela dor inerente a essa cruel verdade.
I was already missing before the night I left
Just me and my shadow and all of my regrets
Parece-me a mim que não és senão inconsequente; egoísta; oca.
Do teu silêncio, brevemente entrecortado pelas lágrimas ácidas que choras, não nasce nada. Nunca nada.
Já não consigo justificar-te as faltas, as omissões. Não consigo justificar a minha demência por algo tão desprovido de sentido.
Que nunca me esqueça do grande auditório numa manhã de verão com cara de outono.
A patética na estante do piano, professor e aluna discutindo a divisão do tempo, as articulações das frases, quando entra uma cara de outros tempos, de violino na mão, a surpresa pelo auditório com gente.
As hesitações e o silêncio entre as partes, interrompidos por:
- Preciso de um lá!
- Um lá!, respondi tocando... E assim soou; e assim seguiu, violino na mão com a corda afinada.
Possa a vida ter sempre a leveza de uma nota.
O amanhã é hoje...
Tremo, confesso.
Talvez se adiar... Talvez se evitar... mas nada é contrário ao homem. Nada de errado pode acontecer que não vá efectivamente acontecer. Fazendo paz com esta verdade talvez possa existir naquele contexto.