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com a cabeça entre as orelhas

com a cabeça entre as orelhas

26
Jun21

Foi assim que me despi do pensamento mágico.

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Foi assim que me despi do pensamento mágico. Joelhos junto ao peito, pernas cruzadas, mãos dadas entre si. Aninhei-me o melhor que pude, recortada de encontro ao vazio que deixaste no colchão.

Foi assim, coberta de lágrimas, que esperei a tranquilidade da noite que não chegou.

Foi assim até que o silêncio engoliu as dúvidas e a manhã despertou na certeza da solidão.

22
Jun21

Afinal não era complicado.

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Afinal não era complicado. Nem sequer para um cabeça neurótica, como a minha. Para cada uma destas quantas mais?... e na internet tudo se pode encontrar.

Aceitei que a vida é uma constante em pendências que irão continuar a toldar-me o subconsciente. Partindo desta premissa, opto por despejar as listas e os pensamentos no papel e libertar a preciosa memória RAM do meu frágil hardware. 

Afinal tinha nome e tudo: matriz de Eisenhower. E, como parece mais fácil uma pequena mudança de cada vez, repetida até que se torne um hábito, estou a focar-me apenas no quadrante inferior esquerdo. 

Não é urgente; não é importante. Não faças!

 

What is important is seldom urgent and what is urgent is seldom important - Dwight D. Eisenhower

 

19
Jun21

Não imaginava eu que a Filosofia viria a ser um bote salva-vidas.

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Não imaginava eu que a Filosofia viria a ser um bote salva-vidas. Não aos 16 anos, quando a estudava oficialmente e ainda que a Lógica me fascinasse.

O meu regresso à Filosofia surgiu de uma necessidade de estrutura mental. Da sensação de vertigem num mundo ao qual não sei dar sentido.

A maior paz que consigo sentir, à falta de uma qualquer religião, está nos períodos de leitura matinal. Nos estóicos encontro a leveza que me falta.

Sinto-me aluna oficiosa. A falhar, de forma repetida, nas tentativas várias de a aplicar à vida... mas foi o que me permitiu fugir ao algoritmo dos dias de hoje, decidindo deixar de jogar quando já não me interessa.

 

Don’t be a greater coward than children, who are ready to announce, “I won’t play anymore.” Say, “I won’t play anymore,” when you grow weary of the game, and be done with it. But if you stay, don’t carp. - Epictetus, Of Human Freedom

15
Jun21

No tempo do Nokia 3310 tudo parecia menos complicado…

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No tempo do Nokia 3310 tudo parecia menos complicado, os SMS extremamente caros e as chamadas então... A vida ao ritmo da “cobrinha”. Muitas aulas de anatomia foram passadas a analisar a capacidade de extensão daquela linha devoradora de pixéis, até que se comesse a si própria e morresse.

A tecnologia sempre me fascinou. A evolução constante em velocidade vertiginosa... até que começou a contribuir para a minha auto-destruição. 

É impossível viver - de forma relaxada, pelo menos - com esta sobrecarga sensorial. O sistema nervoso central do ser humano não foi concebido para tantos alarmes de possíveis crises ao mesmo tempo. 

Na esquina de um tropeço com a rua do desespero, apaguei uma série de apps, retirei outras tantas do ecrã principal, desactivei as notificações de tudo e saí das redes sociais.

Se for urgente telefonem, caso contrário não vou saber que precisam de mim!

07
Jun21

Começou com o primeiro toque.

Começou com o primeiro toque. Ao segundo já estava acomodada entre o cheiro a livros e couro. O sorriso de olhos rasgados a levar-me a sítios onde a ideia de amor existia. Eu tinha a idade de não ter idade nenhuma. Já não era de uns; não pertencia ainda a outros. E nesse espaço fui roubada.

A cada toque de saída o mundo no meio dos mundos começava. Eu era preparada para aquilo que nunca viria a ser. Fiquei indefinidamente na obscuridade do segredo de alguém que me mostrou um frasco de amor embebido em éter, mas a ideia daquele amor era tão desejável. De quem a culpa?

Entre joelhos esfolados e corridas sem meta, levaste-me pela mão ao futuro que seria um presente transformado em pó.  O mesmo pó sacudido da roupa com a leveza da certeza no dia seguinte. Aquele que foi sempre o mesmo desde então. Corro do que foi e encontro o que nunca deixou de ser.  

A música; até a música. Eu tenho a certeza que os compassos e tonalidades estão certos, mas oiço tão desafinado quanto as cordas do meu esquecido piano. Como as teclas presas que teimam em gritar o silêncio.

Até tu chegares eu sabia, juro que sabia música. Agora respiro em síncopes. Tropeço a cada tempo numa queda interminável para um mar de tijolos pretos e brancos que são as cores da minha vida vivida desde que acordei de ti.

E quando a música se perdeu na estereofonia de um mundo surdo levaste-me a conhecer o alfabeto.  

Era um concurso? Quem conseguiria esgotar mais depressa as letras na maior palavra de amor? Quem conseguiria espremer amor em tinta permanente?

“Sempre tua” a despedida. E assim fui, contra minha vontade. Sempre.

Os sentidos esgotados em ti. Cada um roubado a seu tempo; na calma premeditada de tudo o que virias a negar.

Eu não tinha nada em mim que não tivesses reclamado como teu. O meu nome desprovido de aroma, de som, de cor, de sentido. O meu nome e a vida nele contida desapareceram dentro dos teus lábios. Reverberaram durante aqueles instantes em ti e, aos poucos, desapareceram na tua sombra.  Levaste todas as cores na tua mala com cheiro a livros e couro e deixaste-me de mãos fechadas em torno de nada.

Procurei-te em todas as que se seguiram. Naquele sorriso de esguelha. Naquele outro casaco de pele. Naquele corpo e noutro. Perdendo noção do meu. Deixando de saber a que sabiam o amor e as nuvens.

Tentei sentir o que sentia antes de te ter sentido a ti. E quando o amor se me deparou como simples, já não o soube usar. Despi-o, rasguei-me e repeti o envenenado padrão da dor conhecida.

Quem começou? De quem a culpa?

Entre vergonha e incerteza deixei-me ficar sentada nos degraus do recreio a ver a vida dos outros avançar.

Ainda hoje me surpreendo com a certeza com a qual os restantes pisam o mundo, com a simplicidade com que dão as mãos aos filhos pequenos. Não consigo compreender como é que somos todos adultos se eu continuei ali... a seguir ao último toque. Depois da aula em que tu, a professora, me ensinaste como perder a possibilidade de vir a ser uma mulher diferente.

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