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com a cabeça entre as orelhas

com a cabeça entre as orelhas

10
Jun19

Acabei o livro.

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Acabei o livro (Enigma Variations). Deve estar muito bem escrito porque senti toda a angústia. Aquela que já é minha também. Não foi fácil de digerir, ainda que o fim tenha sido um pouco anti-climático.

Satisfaz-me, contudo, ter percebido o instante a partir do qual nada, nunca mais, seria igual. 

De costas para a cidade, olhar perdido nas águas do Tejo, sabendo que aquele instante seria o último de paz, sabendo que o segundo imediatamente a seguir a levantar-me do banco deixava sentada a alma e arrastava o corpo por uma cidade vazia. 

Será isso o vinho da vida? A consciência exacta de cada instante pelo instante que é? Tenho tantas saudades daqueles minutos, ainda sentada. Antes de tudo.

07
Jun19

Acordei com a sensação...

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Acordei com a sensação de ter vestido um sonho que não me lembro de ter sonhado. Não o consegui largar ao longo do dia.

Como roupa molhada, colada à pele, a tolher os movimentos na humidade absorvida sem a sensação de frescura.

A mesma frase sentida como tão verdadeira quanto os meus ossos doridos: sou pior que 25 anos de solidão.

Preciso de me despir de ti. De que terei medo? De ser livre?

Na despedida do dia, com o sol a baixar no horizonte, o olhar desta criança devolveu-me à vida.

 

'Cause how it looks right now to me
Is you are scared of the danger

03
Jun19

Chorei a manhã toda...

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Chorei a manhã toda pelos corredores do aeroporto de Lisboa. A voz maternal repetia do outro lado da ligação “Estás livre, livre, livre!”. Não se perdeu em mim a ironia da expressão.

Reparei no olhar atento de uma senhora ao passar por mim; atento no meu inundado de lágrimas. Que história terá imaginado para mim? Certamente menos patética que a real.

Adormeci com Beethoven nos ouvidos e o livro esquecido no colo. Não abri os olhos através da turbulência, mas apenas a tempo de ver a sombra que tinha deixado atrás tornar a aproximar-se de mim... esperando que mais leve.

 

Nem de propósito deparei-me com esta entrada num outro blog.

02
Jun19

Há 20 anos saí do palco...

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Há 20 anos saí do palco depois de falhar, por três vezes, o início de uma peça. Deveria ter sido importante o suficiente para fixar a peça, o compositor, alguma coisa. Tudo o que retive foi a expressão exasperada da minha professora.

Há uma semana seguia eu o caminho da aceitação da tua saída de cena sem terminar a deixa. Como se adivinhasses no ar a tranquilidade do que não podia mudar, voltaste ao palco, mas já ninguém estava a assistir. 

E, novamente, uns dias mais tarde, vieste com as palavras que deixaste calar quando decidiste que o silêncio era a música que se impunha na tua vida e fizeste de mim surda na que não tinha escolhido.

Hoje estou perdida nas Variações (Diabelli) do teu tema, à espera que a certa me escolha. Aproveito os últimos instantes da vida, calma, como ela era até há uma semana atrás. 

01
Jun19

Finalmente.

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Finalmente. Tão perto que sinto o aroma a desconhecido.

Tenho noção do meu privilégio. Por poder ter chegado à existência em circunstâncias que me permitem minimizar, parar, sair... ou ficar. 

Desde que alterei a direcção do olhar, redescobri a perfeição da definição HD da vida vivida fora do melhor ecrã do mercado.

Por isso a minha viagem será analógica. Um dia fui sozinha ao teu encontro. Sigo agora sozinha à procura do que sobrou de mim.

Aqui voltarei mais tarde.

29
Mai19

Nova Iorque.

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Nova Iorque. 

Sinto uma nostalgia a preto e branco do sítio que não adoro. 

São instantes fotográficos à deriva nas tonalidades esbatidas de uma Polaroid.

Nova Iorque.

A cidade que não adoro. 

Onde não sinto vontade de voltar, ainda que talvez encontrasse uma parte de mim, à chuva, na esquina da Broadway com a 43ª rua.

 

Your memory near
Laced with the pain
I needed love but it's never the same
27
Mai19

Foi quando os dias...

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Foi quando os dias se espraiaram em direcção ao Verão que chegaste, disposta a entrar na maré que me levava.

Foi quando quiseste. Porque pudeste.  

Pudesse eu voltar costas às costas que me mostraste. 

 

Darling, be careful with me
'cause there's part of me that you don't know
Darling, be gentle with me
when you tell me that you need to go
And if you should miss me, don't call me
don't tell me, just leave me alone
Because you cut me wide open
left teardrops on all my white roses

25
Mai19

Bom dia. Boa noite.

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Bom dia. Boa noite.

Deixo-te à beira da estrada de há anos, onde a criança que foste ficou perdida à procura de família enquanto, à altura dos olhos, todos os pares de pernas de adultos eram iguais.

Boa noite. Espero que o sol amanheça com um sorriso morno em ti.

Eu deixo-te aí. A minha estrada é outra.

Não foi engano.

Não foi destino.

Foi caminho. Para mim. Para casa.

Bom dia. Acordei!

 

I've got a king sized bed and a PhD in the way it used to be.

 

 

22
Mai19

Acabei hoje a leitura...

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Acabei hoje a leitura do livro The Waterproof Bible de Andrew Kaufman. Comprado há quase 10 anos, ficou adormecido à espera do seu dia. E esse dia foi há pouco mais de uma semana, quando o reencontrei ao enquadrar o escritório e as suas estantes no minimalismo.

Ontem, uma das passagens marcou-me. Quando deus, na forma feminina e desesperada com a incompreensão humana, desabafa o seguinte:

“But at least I’m not running around putting a beginning, middle and end on everything”, she said, letting go of his collar. (...) “Have you people never noticed that there’s a central flaw? No? Here comes the clue - the only difference between a happy ending and a sad ending is where you decide the story ends.”

Quase de propósito, num encontro agendado há tanto tempo atrás, terminei ontem a tarde numa conversa invulgar, não obstante familiar, com um estranho que me leu antes de me conhecer. Em conjunto, desconstruímos ideias para chegar aos afectos.

E foi aqui que fiquei: é legítimo retirar algumas coisas das relações humanas, como a descoberta do outro e de nós; inspiração; prazer. Mas não faz sentido, nem é justo para nenhuma das partes, querer retirar do conjunto partilhado o que cada um de nós julga que uma relação deve ser ou parecer.

Nessa leveza senti que o erro não era teu, nem meu, nem de ninguém. Teria bastado ser o que foi ainda que coisa nenhuma. Talvez eu tivesse tido que mergulhar nesse mar revolto para quase me afogar e, nessa morte figurativa, chegar mais perto da minha própria humanidade. 

Foi nesse sentido que tentei aproximar águas... mas tu tiveste que as separar novamente no comentário final. 

Talvez seja pelo melhor. 

Que tenhas paz. 

Que estejas tranquila.

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