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com a cabeça entre as orelhas

com a cabeça entre as orelhas

18
Jun19

Não li uma única linha...

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Não li uma única linha do livro Meditations durante as férias.

Ia preparada para lidar com a minha solidão e enfrentar os meus demónios, mas o que encontrei foram gargalhadas sinceras às refeições e apoio genuíno nos intervalos. 

O mais que mantive diariamente foram as minhas meditações, a eterna lista de gratidão e as reflexões escritas (não as que aqui deixo).

Marco Aurélio ficou de parte até hoje, de regresso à assépsia da (suposta) civilização. E, de repente, fez-me sentido a insistência de Séneca em relação à filosofia; porque, ao ler, senti-me num outro recanto de mim, tranquilo, com sabor a lar.

Uma passagem marcou-me: “Death is a rest from the recalcitrance of sense, and from the impulses that pull us around like a puppet, and from the vagaries of discursive thought, and from our service to the flesh.”

Death is a rest. Death is a rest.

Voltei àquele quarto igualmente asséptico, ao olhar tranquilo do meu pai ao dizer-me “Tu não chores que eu vou só descansar”. E assim foi.

17
Jun19

Lisboa.

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Lisboa.

Os mesmos corredores onde, há precisamente duas semanas atrás, os meus pés rodopiavam em torno de um mar de lágrimas.

Hoje revi aquele fantasma que fui eu e pareceu-me tão distante; tão irreal, perante tudo o que aconteceu neste (aparente) curto intervalo de tempo. Onde os estímulos foram reduzidos a caminhadas, à procura de animais no meio da selva, a passeios por povoados paupérrimos, a conversas à mesa com desconhecidos que se tornaram próximos...

Sinto agora, mais que nunca, necessidade de retomar os hábitos que me permitem alguma calma:

• Meditação matinal

• Reflexão escrita matinal sobre o essencial desse dia

• Período de leitura - filosofia

• Exercício físico

• Piano

• Reflexão escrita nocturna 

• Meditação nocturna

• Leitura 

• 8h de sono

Tendo em conta que, apesar de tudo o que não existia, não lhes faltava comida nem tribo... quem estará melhor? Quem tem como estímulo uma bola de futebol feita de trapos, aquela maravilhosa luz do céu nocturno, a comida vinda da terra, ou nós, cá deste lado, que temos tudo? Tudo num ecrã; incrivelmente conectados, mas tão profundamente sós.

06
Jun19

Que dia cheio!

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Que dia cheio! 

Cansaço, natureza, fome, medo... tudo.

Hesitei. Nos momentos mais difíceis pensei em ti, sem esquecer a mensagem inerente... Vieste agarrada às emoções negativas.

Depois dos animais, das travessias de pontes inacabadas com tábuas instáveis, voltar a ver gente foi delicioso. Todos nós sujos. A jogar à bola com miúdos, como se a idade fosse igual a nada.

Vazaha! Estrangeiro Branco. Fomos nós todos!

 

04
Jun19

Ao meu lado, um homem de Nova Deli...

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Ao meu lado, um homem de Nova Deli, pouco mais novo que eu, ao preencher os papéis das formalidades necessárias à chegada a Antananarivo, subtraiu o ano de nascimento ao corrente para saber quantos anos tinha.

Invejei-lhe a completa ausência de noção do número de anos de vida.

Também eu lhe imaginei uma história, talvez mais interessante que a real... mas os anos dele devem ter mais vida que os meus, se chegou ao ponto de lhes perder a conta.

03
Jun19

Chorei a manhã toda...

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Chorei a manhã toda pelos corredores do aeroporto de Lisboa. A voz maternal repetia do outro lado da ligação “Estás livre, livre, livre!”. Não se perdeu em mim a ironia da expressão.

Reparei no olhar atento de uma senhora ao passar por mim; atento no meu inundado de lágrimas. Que história terá imaginado para mim? Certamente menos patética que a real.

Adormeci com Beethoven nos ouvidos e o livro esquecido no colo. Não abri os olhos através da turbulência, mas apenas a tempo de ver a sombra que tinha deixado atrás tornar a aproximar-se de mim... esperando que mais leve.

 

Nem de propósito deparei-me com esta entrada num outro blog.

01
Jun19

Finalmente.

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Finalmente. Tão perto que sinto o aroma a desconhecido.

Tenho noção do meu privilégio. Por poder ter chegado à existência em circunstâncias que me permitem minimizar, parar, sair... ou ficar. 

Desde que alterei a direcção do olhar, redescobri a perfeição da definição HD da vida vivida fora do melhor ecrã do mercado.

Por isso a minha viagem será analógica. Um dia fui sozinha ao teu encontro. Sigo agora sozinha à procura do que sobrou de mim.

Aqui voltarei mais tarde.

31
Mai19

Depois de analisado...

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Depois de analisado, considero que foi um mês bom.

Consegui manter uma série de hábitos que me trazem tranquilidade:

• Reescrevi o meu ideal e tenho vivido em concordância;

• Inscrevi-me na Dråpen i Havet;

• Mantive o estudo do estoicismo, através de Séneca e Marco Aurélio;

• Registei os meus dias no caderno, juntamente com os motivos de gratidão;

• Escrevi sempre os 3 a 5 parágrafos diários; por vezes mais, tantas vezes sem vontade nenhuma;

• Fiz exercício físico entre 3 a 4 vezes por semana; notei que me custou a semana em que só fui 3 vezes;

• Arrumei a casa toda depois da senda do jogo minimalista;

• Voltei a fotografar e percebi que é uma das coisas que me mantém focada no presente. Hoje brinquei com as minhas cores.

Que o próximo seja parecido ou melhor.

28
Mai19

Como escreveu Álvaro de Campos

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Como escreveu Álvaro de Campos:

“Estou cansado, é claro,

Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. (....)”

Estou hoje cansada. Cansada do mundo ou apenas de mim. 

Em Maio retomei o registo dos meus motivos de gratidão, em conjunto com o início de um diário em papel traçado a caneta.

Estou hoje desencantada. Desencantada com o mundo ou apenas comigo.

É em dias como o de hoje que sinto maior necessidade de procurar activamente os motivos de gratidão na minha vida. É em dias como este que encontro mais do que os três que me propus registar.

Porque, no fim de tudo, há maior infinidade no bom.

 

“You should not be disgusted, or lose heart, or give up if you are not wholly successful in accomplishing every action according to correct principles, but when you are thwarted, return to the struggle, and be well contented if for the most part your actions are worthier of human nature.” - Marcus Aurelius, Meditations.

23
Mai19

Persigo há semanas as ideias...

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Persigo há semanas as ideias que julgo pensar sem que consiga, de facto, condensá-las em frases com nexo. Fico sempre aquém. Estou quase a vê-las; quase lhes oiço a harmonia, mas tornam a evadir-se de onde nunca chegaram a ter forma ou cor.

Hoje será confuso, mas hoje terá que servir. 

A primeira vez que me senti em estado de consciência foi na 2ª circular, a caminho de um emprego que odiava, a ouvir a abertura do Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn. Nas próximas horas estaria provável e certamente a viver contra a minha noção de verdade, mas naquele instante, o crescente das cordas, metais e percussão era tudo. Era aquilo. Naquele instante. Ali. 

A segunda vez que me senti em consciência foi num duche, quando consegui aperceber-me de cada milímetro de pele em que as gotas de água quente tocavam. Era aquilo. Naquele instante. Ali.

E depois a vida meteu-se no caminho e perdi o fio condutor, enquanto tecia com ele considerações sobre nada que pudesse controlar.

Na minha viagem em busca daquele instante em que existir bastava, encontrei filosofia e mindfulness.

A tentativa confusa de síntese:

As minhas emoções são consequência dos meus pensamentos sobre as situações actuais; não são emoções de forma absoluta, ou seja, se isoladas do contexto do julgamento inicial. Alterando este, no centro racional do meu ser, talvez consiga alterar as emoções. Mas será necessário alterá-las? Ou bastará apenas reconhecer-lhes a existência, como ao crescente das cordas, metais e percussão em Mendelssohn ou às gotas de água quente que beijam a pele, e aceitá-las como entidades que surgem e, dado o tempo necessário, desaparecem sem que, em nada, alterem a essência da minha consciência?

O sentido da vida faz-me sentido se for concordante com os meus valores; com a virtude existente em cada ser humano como parte integrante de um universo. A felicidade encontra-se nesses instantes vários, episódicos, de consciência do que é, mais ainda se as acções estiverem em concordância com a nossa virtude. 

O treino desta consciencialização permite reproduzir esses vários instantes, ao longo do tempo, ao longo da vida, de modo a serem cada vez mais frequentes.

Hoje é confuso, mas por hoje serve. E, por favor, não me tragam Descartes para a equação, que essa variável para mim (ainda) é incógnita.

 

“(...) each of us lives only in the present, this fleeting moment of time, and that the rest of one’s life has already been lived or lies in an unknowable future. The space of each person’s existence is thus a little thing (...)” - Marcus Aurelius, Meditations.

 

 

21
Mai19

Sentada. De olhos fechados.

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De olhos fechados. Ponto de foco encontrado. Inspiração e expiração no seu ciclo constante. O ruído ambiente ignorado por completo. Até que: “Estás a ir muito bem”. Os olhos mantêm-se fechados, a posição a mesma. Procuro o foco. Volto à respiração... “Não não não! Foca! Estás a perder...” e volta ao princípio.

É assim que começa o meu dia.

Descobri a meditação há 3 anos e perdi-a pelo caminho, enquanto coçava uma orelha. Há uns meses decidi reescrever a vida e comecei pelo meu dia. Escrevi o horário de um dia ideal... curiosamente não escrevi “trabalhar” em lado nenhum.

A meditação tem sido o ponto de apoio. Num sentido não espiritual; apenas de não tentar controlar o que não necessita de controlo, como a respiração. Parar por 10 minutos e deixar-me existir. (E é tão difícil!)

Finalmente, depois de ver no papel como gostaria que fossem os meus dias, consegui começar a vivê-los. Tema e variações. Mas têm que começar assim.

 

 

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