Consegui.
Consegui. Vim sozinha. Descobri que consigo voar sem a mão de alguém ao lado, para que a possa apertar; sem lágrimas a abrirem caminho porque não adianta e não controlo absolutamente nada na aviação. Mais que o medo de andar de avião, existia um medo arreigado de não ter o controlo sobre tudo à minha volta. E, como se conclui, tudo o que posso controlar é a minha reacção aos desenvolvimentos da vida.
Consegui. Não sabia se seria fácil, difícil, sozinha, em grupo.
Consegui. Pegar em camaleões, passar horas entre lianas e teias de aranhas na selva, sair de lá com algumas na roupa e sacudi-las com cuidado para não as magoar em vez de ser em pânico para me libertar rapidamente do desconhecido.
Consegui. Subir a rochedos no meio de chuva, ainda que não tenha tido a capacidade de apreciar a vista... só queria descer novamente.
Consegui. Dar-me com quem me via como estrangeira branca, pegar num bebé que chorava perdido no mundo gigantesco à sua volta e levá-lo à mãe, falando numa língua que nada lhe dizia.
Consegui. Rir e chorar com estranhos.
Nada do que me possa acontecer está fora dos planos do universo; nem a morte. Tudo no seu ciclo. Tudo no seu tempo.
Consegui encontrar duas pessoas com ideais semelhantes aos meus, ainda que não falemos a mesma língua e não saiba se algum dia nos iremos tornar a ver.
Estou-lhes grata. Também por me terem dado a conhecer a Fundación Vicente Ferrer. Somos todos feitos do mesmo material. Eu tive só a sorte de ser filha daqueles pais, naquele terra, naquele país, naquela altura.