Pára o tempo e os gritos em redor.
Pára o tempo e os gritos em redor. Diz porque teimas em seguir pela rua dos candeeiros apagados.
Pára e escuta: eles continuam. Atacam em síncopes sucessivas.
Pára o tempo. Silencia a dor. Inventa espaço.
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Pára o tempo e os gritos em redor. Diz porque teimas em seguir pela rua dos candeeiros apagados.
Pára e escuta: eles continuam. Atacam em síncopes sucessivas.
Pára o tempo. Silencia a dor. Inventa espaço.
Odeio cada letra do teu nome queimado em mim.
Quero agarrar-te pelos braços e sacudir-te o sorriso da cara.
Obrigar-te a ver a destruição que deixaste.
Tudo o que morreu enquanto respiravas.
O azul que te leva tem a velocidade dos ventos do deserto que deixa para trás.
Despojado. Como se nada, jamais, o tivesse habitado. Grãos de areia caídos entre os dedos, como a vida ao entardecer.
Árido. Como se ninguém, jamais, tivesse bebido do seu oásis esquecido.
O azul que te leva tem a força do que teima em resistir.
Mas nada estremece; nada cala; nada sente. Nunca nada mais perto.
O tempo ou a noção do mesmo.
Hoje é o dia mais longo do ano. O mais longo sozinha. Mas, dado tempo suficiente, não há nada que não seja um mero piscar de olhos na eternidade, que o tempo tudo apaga, até quem poderia vir a ter memória dele.
Não sou de lembranças profundas ou distantes, mas assumo alguma ansiedade perante a ideia deste tempo todo não ser tempo nenhum. A inexorabilidade de todas as mudanças e esquecimentos. De ser tudo normal, tudo banal, tudo mortal.
E eu onde? E eu quando? Em que função? Para que fim? “What brings no benefit to the hive brings none to the bee”, pode ler-se no livro sexto das meditações. A abelha, porém, não sabe que existe tempo a pensar ou a perder.
Continuo a não acreditar que fingirmo-nos irracionais resolva a ansiedade que a realidade da existência humana pode acarretar para alguns. Partilhando mais talvez fosse menos tempo o tempo do desespero.
How swiftly unending time will cover all things, and how much it has covered already! - Marcus Aurelius, Meditations