Ao regressar do lugar da solidão
Ao regressar do lugar da solidão
sou relembrada do passado
pelo reflexo das lágrimas que ficaram no chão.
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Ao regressar do lugar da solidão
sou relembrada do passado
pelo reflexo das lágrimas que ficaram no chão.
Pára o tempo e os gritos em redor. Diz porque teimas em seguir pela rua dos candeeiros apagados.
Pára e escuta: eles continuam. Atacam em síncopes sucessivas.
Pára o tempo. Silencia a dor. Inventa espaço.
Hoje não me apeteces. O cinzento do teu olhar ameaça chuva no meu.
Hoje escolho este país deserto. Onde tudo é nada.
Onde a ausência se torna paz.
Oiço-te a voz por cima da tempestade, na tua vontade obstinada que nos mantém na amura do bom tempo.
Oiço-te a voz por cima da escuridão em que a minha humanidade se esgota. No mar agitado onde me afogo.
O azul que te leva tem a velocidade dos ventos do deserto que deixa para trás.
Despojado. Como se nada, jamais, o tivesse habitado. Grãos de areia caídos entre os dedos, como a vida ao entardecer.
Árido. Como se ninguém, jamais, tivesse bebido do seu oásis esquecido.
O azul que te leva tem a força do que teima em resistir.
Mas nada estremece; nada cala; nada sente. Nunca nada mais perto.
Esperas na esquina uma e outra noite. Por um e outro encontro. Pelo abraço que ficou em suspenso. Pelo sorriso que ficou por nascer.
É sempre igual. Uma e outra vez. Tão igual que não sei porque insistes em tentar que se torne diferente.
Ninguém consegue ouvir o silêncio.
Ninguém consegue ver o que não existe.
Não aqui, na intersecção de coisa nenhuma.
Revisited
Outra noite de olhos abertos.
Oiço os passos arrastados da saudade.
Sem grande espera o passado chega de assalto, impregnando o ar com a sua podridão... e tudo o que existe é... nada.
A música preenche o vazio em tonalidades menores.
Se ao menos pudesse... voltar atrás, correr à frente... antecipar a dor e a perda.
Amanhã. Amanhã torno a sentir.
I’m somewhere in between what is real and just a dream...
Acende-se novamente a chama que devora a esperança. As presas aguçadas dilaceram as escassas áreas poupadas.
Não sobra nada.
O vazio, também ele devastado.
Foi assim que me despi do pensamento mágico. Joelhos junto ao peito, pernas cruzadas, mãos dadas entre si. Aninhei-me o melhor que pude, recortada de encontro ao vazio que deixaste no colchão.
Foi assim, coberta de lágrimas, que esperei a tranquilidade da noite que não chegou.
Foi assim até que o silêncio engoliu as dúvidas e a manhã despertou na certeza da solidão.
Se há coisa que irrita quem tem necessidade de controlo é aperceber-se que não controla nada.
Portanto, arranjei estratégias para garantir que aquilo que faço me permite algum tipo de controlo.
• Reduzi a tralha que tinha.
• Não compro tralha extra.
• Medito.
• Continuo com o diário da gratidão.
• Vou escrevendo.
... mas esqueci-me de ser minimalista no trabalho. Quando olhei para a agenda na semana passada, não encontrei um dia livre nos próximos tempos. Acabei a comprar outro tipo de tralha, ao preço do meu descanso.
Analisando, parece-me só mais uma tentativa de controlo na imprevisibilidade ansiogénica dos tempos pandémicos. Se estiver ocupada, não penso.
Virei o minimalismo do avesso e voltei ao início.
Falta-me minimizar a cabeça.