O sorriso travesso quebra o silêncio.
O sorriso travesso quebra o silêncio.
A barreira do som comprime os corpos.
Há estilhaços de dor, de medo, de nada.
Depois, de novo o silêncio, na dança tranquila do teu olhar.
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O sorriso travesso quebra o silêncio.
A barreira do som comprime os corpos.
Há estilhaços de dor, de medo, de nada.
Depois, de novo o silêncio, na dança tranquila do teu olhar.
Foi assim que me despi do pensamento mágico. Joelhos junto ao peito, pernas cruzadas, mãos dadas entre si. Aninhei-me o melhor que pude, recortada de encontro ao vazio que deixaste no colchão.
Foi assim, coberta de lágrimas, que esperei a tranquilidade da noite que não chegou.
Foi assim até que o silêncio engoliu as dúvidas e a manhã despertou na certeza da solidão.
Invejo quem passa pela vida sem lhe perguntar o porquê.
Sem o esmagador peso da angústia.
A promessa de leveza que seria, então, respirar.
Ela regressava como derrotada. Tinha sido a miúda com a janela entre si e o mundo. Através da qual o sol queimava, mas não envolvia em abraço quente. A vida aguardava sempre... do outro lado.
Se há coisa que irrita quem tem necessidade de controlo é aperceber-se que não controla nada.
Portanto, arranjei estratégias para garantir que aquilo que faço me permite algum tipo de controlo.
• Reduzi a tralha que tinha.
• Não compro tralha extra.
• Medito.
• Continuo com o diário da gratidão.
• Vou escrevendo.
... mas esqueci-me de ser minimalista no trabalho. Quando olhei para a agenda na semana passada, não encontrei um dia livre nos próximos tempos. Acabei a comprar outro tipo de tralha, ao preço do meu descanso.
Analisando, parece-me só mais uma tentativa de controlo na imprevisibilidade ansiogénica dos tempos pandémicos. Se estiver ocupada, não penso.
Virei o minimalismo do avesso e voltei ao início.
Falta-me minimizar a cabeça.
Abrem-se as portas à noite. Em passo decidido afasta-se do dia.
Não precisa de lua ou estrelas ou cama.
Não sei se pensa o que não sente. Não sei se sente o que cala.
Na dúvida, aconchego a roupa ao corpo e guardo no bolso a mão que largaste.
Setembro nasceu com as cores da saudade, enquanto eu vou aprendendo a existir comigo mesma. A deixar atrás a vida sonhada.
Ao entrar em casa penduro a ilusão como quem despe o casaco.
Cá dentro nada. Cá dentro tudo.
Há um cansaço na forma de pensar e uma necessidade por identificar.
Pudesse eu ser diferente de mim.
Como confiar em mim se não sei quem és?
Vinda da escuridão vi serpentinas coloridas a saírem-te da boca em cascatas de sonhos que nunca seriam vividos. Como confiar em mim? Ou num outro tu?
Das noites que me roubaram aos dias depois dos dias, o que fica são as dez toneladas de dor que me deixaste no peito.
Sabia que era capaz de a transformar. Via todo o potencial através do olhar escondido pelas mechas escorridas de cabelo. Tinha a certeza de tudo o quanto ela podia ser. Estava tão certa do que faltava concretizar que me esqueci de aceitar que nada daquilo existia. Não naquela altura. Não ainda. Talvez nunca.
Continuo sem saber quem amei naquelas tardes. A possibilidade que nunca viria a substanciar-se? A mim por me considerar excepcional a detectar o potencial alheio?
“Se ela não for infeliz, o que lhe sobra? Tens que aceitar isso.” Um ano e meio depois a simplicidade e o pragmatismo destas palavras esbofetearam-me. Acabara de dar voz ao que eu não quisera ouvir. Nem ver. Ou sentir. Apesar de mo ter sido dito quando nenhum elogio chegou. Foi demonstrado de cada vez em que não esteve presente. Foi até sentido na ausência de amor. Foi claramente sentido todos os dias em que fui usada. A puta das 7 da manhã.
Teimosa e estupidamente, continuei a tentar penetrar a fortaleza vazia.
Passei os meses seguintes a reproduzir essa manhã e todas as outras noites. O que teria feito diferente. O que teria sido melhor se eu soubesse ser uma pessoa “normal”. Satisfeita. Humilde. Eu sonhei com amor no Verão da minha infância e perdi-me em buscas no Inverno da minha vida.