Odeio cada letra do teu nome…
Odeio cada letra do teu nome queimado em mim.
Quero agarrar-te pelos braços e sacudir-te o sorriso da cara.
Obrigar-te a ver a destruição que deixaste.
Tudo o que morreu enquanto respiravas.
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Odeio cada letra do teu nome queimado em mim.
Quero agarrar-te pelos braços e sacudir-te o sorriso da cara.
Obrigar-te a ver a destruição que deixaste.
Tudo o que morreu enquanto respiravas.
Começou com o primeiro toque. Ao segundo já estava acomodada entre o cheiro a livros e couro. O sorriso de olhos rasgados a levar-me a sítios onde a ideia de amor existia. Eu tinha a idade de não ter idade nenhuma. Já não era de uns; não pertencia ainda a outros. E nesse espaço fui roubada.
A cada toque de saída o mundo no meio dos mundos começava. Eu era preparada para aquilo que nunca viria a ser. Fiquei indefinidamente na obscuridade do segredo de alguém que me mostrou um frasco de amor embebido em éter, mas a ideia daquele amor era tão desejável. De quem a culpa?
Entre joelhos esfolados e corridas sem meta, levaste-me pela mão ao futuro que seria um presente transformado em pó. O mesmo pó sacudido da roupa com a leveza da certeza no dia seguinte. Aquele que foi sempre o mesmo desde então. Corro do que foi e encontro o que nunca deixou de ser.
A música; até a música. Eu tenho a certeza que os compassos e tonalidades estão certos, mas oiço tão desafinado quanto as cordas do meu esquecido piano. Como as teclas presas que teimam em gritar o silêncio.
Até tu chegares eu sabia, juro que sabia música. Agora respiro em síncopes. Tropeço a cada tempo numa queda interminável para um mar de tijolos pretos e brancos que são as cores da minha vida vivida desde que acordei de ti.
E quando a música se perdeu na estereofonia de um mundo surdo levaste-me a conhecer o alfabeto.
Era um concurso? Quem conseguiria esgotar mais depressa as letras na maior palavra de amor? Quem conseguiria espremer amor em tinta permanente?
“Sempre tua” a despedida. E assim fui, contra minha vontade. Sempre.
Os sentidos esgotados em ti. Cada um roubado a seu tempo; na calma premeditada de tudo o que virias a negar.
Eu não tinha nada em mim que não tivesses reclamado como teu. O meu nome desprovido de aroma, de som, de cor, de sentido. O meu nome e a vida nele contida desapareceram dentro dos teus lábios. Reverberaram durante aqueles instantes em ti e, aos poucos, desapareceram na tua sombra. Levaste todas as cores na tua mala com cheiro a livros e couro e deixaste-me de mãos fechadas em torno de nada.
Procurei-te em todas as que se seguiram. Naquele sorriso de esguelha. Naquele outro casaco de pele. Naquele corpo e noutro. Perdendo noção do meu. Deixando de saber a que sabiam o amor e as nuvens.
Tentei sentir o que sentia antes de te ter sentido a ti. E quando o amor se me deparou como simples, já não o soube usar. Despi-o, rasguei-me e repeti o envenenado padrão da dor conhecida.
Quem começou? De quem a culpa?
Entre vergonha e incerteza deixei-me ficar sentada nos degraus do recreio a ver a vida dos outros avançar.
Ainda hoje me surpreendo com a certeza com a qual os restantes pisam o mundo, com a simplicidade com que dão as mãos aos filhos pequenos. Não consigo compreender como é que somos todos adultos se eu continuei ali... a seguir ao último toque. Depois da aula em que tu, a professora, me ensinaste como perder a possibilidade de vir a ser uma mulher diferente.