A luz desliza pela curva de um sorriso.
A luz desliza pela curva de um sorriso.
Entre uns lábios e outros, em constante desacordo.
Não sabes já quem te desafia ou te guia. Se a noite, se o dia, na vida que era do outro.
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A luz desliza pela curva de um sorriso.
Entre uns lábios e outros, em constante desacordo.
Não sabes já quem te desafia ou te guia. Se a noite, se o dia, na vida que era do outro.
Estou cansada de ser diferente.
Reinventei-me quando tive a oportunidade de estagiar fora do país. Tinha um corpo e um nome e podia ser quem quisesse. Não tinha passado.
Dez anos mais tarde reinventei-me numa viagem em busca de mim. Tinha um corpo e um nome. Mais rugas. Um olhar mais brilhante à custa das lágrimas. Ainda assim quem quisesse; ainda assim sem passado.
Reencontrei-me, no final das duas viagens, com o eu que deixei em casa.
Não sei como reinventar-me neste contexto. Não sei como fugir a todas as suposições que os outros fizeram da máscara que usei. Não sei reiniciar o sistema e, parece-me a mim, que a vida vai avançada.
Estou cansada de ser diferente, mas está provavelmente na altura de fazer as pazes comigo e abraçar a criança que ficou lá atrás a chorar. Ninguém saberá cuidar dela melhor que o adulto em que se tornou.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) - Álvaro de Campos, Tabacaria
Segui a estrada do mar em direcção a casa. O pôr do sol no meu encalço.
Pelo retrovisor passearam os lugares do Verão esquecido.
O cão abandonado ficou no passeio a ver-me desaparecer.
Já não tenho o teu nome nos meus lábios.
Quando a tua existência cruza o meu pensamento, forço-a a sair. Ainda que pertenças, quiseste a liberdade da prisão conhecida. Pouco importa se sei o que achei saber que existia. Pouco importa se existiu o que exististe em mim.
Como no poema que um dia te mostrei, “é possível ser(es) livre, livre, livre”. E tu foste. E tu és. E tu serás.
E eu já não sei o teu nome em mim.