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com a cabeça entre as orelhas

com a cabeça entre as orelhas

04
Set20

Setembro nasceu com as cores da saudade...

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Setembro nasceu com as cores da saudade, enquanto eu vou aprendendo a existir comigo mesma. A deixar atrás a vida sonhada. 

Ao entrar em casa penduro a ilusão como quem despe o casaco. 

Cá dentro nada. Cá dentro tudo.

Há um cansaço na forma de pensar e uma necessidade por identificar.

Pudesse eu ser diferente de mim.

16
Fev20

Todas as mulheres que amei.

Recostei-me no lugar habitual. O azul do céu do fim de dia emoldurava o verde das copas das árvores. Da zona do palco conhecido, vazio, chegavam alguns sons repetidos, em jeito de aquecimento.

Trouxeste contigo outra tonalidade de azul - densa; concreta. E essa outra moldura abraçava a pele dos ombros que eu despi lentamente ao som de mil pássaros em vôo.

Há tantos anos atrás a música havia parado. Naquele instante, com a tua chegada, reiniciaste o compasso.

12
Jan20

Todas as mulheres que amei.

Sob o olhar sobranceiro de quem dirigia a turma trocavam-se bilhetes e borrachas, lápis ou afias, comentários ou risos transformados em sorrisos pelo silêncio imposto.

Da escadaria que parecia terminar à porta do primeiro andar da eternidade, o branco etéreo filtrado pela sua clarabóia inatingível, saíam patamares a cada lado. Era aí que esperávamos. Eram esses minutos, esse encontro, que faziam da escola o sítio onde queríamos estar. Até porque nenhum de nós precisava, de facto, de lá estar. Era a escola depois da escola. Era a magia dos arco-íris depois das paredes monocromáticas das manhãs repetidas.

Saindo de umas aulas a caminho de outras.  Fugindo para salas com contrabaixos onde fingíamos ser músicos de jazz no meio da formação clássica. Escapávamo-nos para as salas de percussão onde aparentemente o ruído era permitido, desde que respeitados os silêncios entre ritmos. Trocávamos instrumentos, arranhávamos violinos e soprávamos em trompetes, com aquele que sabia o truque catalisador da sonoridade a aquiescer que “até nem estava mal”.

Foi nesses primórdios de vida e possibilidade, depois da sinfonia do modem a ligar-se à linha telefónica, que o teu correio chegou, à velocidade medida em KB. Chegou com o estrondo de uma bomba a cair no meio de outro local de impacto. 

Uma mulher. No meio de outra mulher. Com outra que não era mais que uma miúda. A gerir coisa nenhuma. Uma declaração de amor, em código binário, que viria a alterar para sempre a vida vivida naquela escola. Foi o instante em que a música parou.

25
Dez19

Todas as mulheres que amei.

Numa viagem de combóio ao encontro da noite, recordo o aroma envolvido no delicioso enrolar da tua pronúncia com um oceano no meio. O aroma, sempre esse. Tantos anos depois continuo a saber qual me atiraria de volta à carruagem que me devolveu a uma vida sem ti.

Sei a diferença horária à distância do vórtex temporal que nos engoliu. Nas harmonias silenciadas pelos anos seguintes, encontro os passos perdidos no labirinto de ser deixada apaixonada, àquela altura da vida, quando o futuro parecia não ter existência; quando nada era palpável a não ser o perfume deixado atrás e a dor sentida no instante.

E onde foram as outras noites e dias que terão existido? Não guardo, não escondo, não sei.

Agradeço-te a persistência. O regresso, intemporal, para me relembrares que amar é possível, no meio da dor, no meio da perda, no meio de falha após falha após outra.

14
Jul19

É mais fácil...

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É mais fácil aceitar que x deixou y por 2x. É mais fácil escolher lados. É mais fácil tomar partidos.

Mas ninguém esteve lá. Ninguém esteve lá quando x, durante 4 anos, teve que sair de casa mais cedo para não se cruzar com a empregada doméstica; ninguém esteve lá daquela vez que x teve que se despachar à pressa e sair pelas escadas para não se cruzar com z. Ninguém esteve lá quando y e x decidiram tentar novamente, sabendo que seriam necessárias mudanças. Mudanças que existiram, na fórmula de w, mas que se ficaram por aí. Ninguém esteve lá quando x teve como resposta de y “não me faças escolher...”, guardada nas reticências a certeza de que a escolha não recairia em x. Ninguém lá esteve.

Mesmo quem lá esteve descarta, com um sacudir de ombros, tudo isso como estando de acordo com o eixo do seu tempo. Não creio sequer que tenha compreendido - ainda hoje - a dor profunda, as cicatrizes do passado que esses “nadas” abriram. Nenhum reconhecimento genuíno pela dor provocada.

A fórmula matemática de 2 vidas em 1 relação é bem mais complexa. É mais fácil, portanto, compreender esta simples “verdade”: x deixou y por 2x. E isso faz com que x não queira fazer parte desse conjunto.

Quando b entrou na equação e prometeu, sem cumprir, o que y nunca prometeu, houve um sorriso escarninho de vitória. Sem que se tenha detido, por um instante, na mágoa que esse sorriso provocou. Na conclusão: - Quem quer que encontres, o que quer que te prometam, x, nunca será real ou completo. E isso magoa pela constatação em si e pela ausência de consideração pela dor inerente a essa cruel verdade.

 

I was already missing before the night I left

Just me and my shadow and all of my regrets

22
Jun19

Há cerca de 19 anos...

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Há cerca de 19 anos atrás foi lançada a na altura polémica série canadiana “Queer as Folk”.  Viria a animar-me os dias durante uma fase de vida menos boa. Creio ter sido o meu primeiro contacto com a palavra “queer”. 

Quando as 5 temporadas chegaram ao fim, senti a falta das personagens como se fossem família, como se as suas histórias pudessem vir a ser a minha. 

À parte o sexo e as drogas, surgiam também as ideias de casamento, adopção, técnicas de reprodução medicamente assistida e todo um mundo de possibilidade e esperança para quem crescera numa altura em que não era aceite ser-se diferente.

Não consegui desfazer-me dos DVDs da série durante o meu desafio minimalista. Todos os outros, menos estes. Foram a minha alegria, a minha esperança, o meu crescimento.

Hoje tropecei  nas “Histórias de São Francisco”; com questões de género e outras que, em tempos, não eram trazidas a público. 

O que me prendeu foi a resposta inicial da aniversariante à pergunta do que tinha ou não mudado em São Francisco nos últimos 60 anos. Não muito...

We’re still people - aren’t we? - flawed, narcissistic... and doing our best!

Histórias de São Francisco.

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