Quando...
Quando é que a tristeza se tornou tão leve, a ausência tão palpável?
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Quando é que a tristeza se tornou tão leve, a ausência tão palpável?
Oiço-te a voz por cima da tempestade, na tua vontade obstinada que nos mantém na amura do bom tempo.
Oiço-te a voz por cima da escuridão em que a minha humanidade se esgota. No mar agitado onde me afogo.
O azul que te leva tem a velocidade dos ventos do deserto que deixa para trás.
Despojado. Como se nada, jamais, o tivesse habitado. Grãos de areia caídos entre os dedos, como a vida ao entardecer.
Árido. Como se ninguém, jamais, tivesse bebido do seu oásis esquecido.
O azul que te leva tem a força do que teima em resistir.
Mas nada estremece; nada cala; nada sente. Nunca nada mais perto.
Há máscaras divertidas. Há outras macambúzias. Entre elas o labirinto em que nos perdermos, eternamente reflectidas no espelho desse outro sentir.
Esperas na esquina uma e outra noite. Por um e outro encontro. Pelo abraço que ficou em suspenso. Pelo sorriso que ficou por nascer.
É sempre igual. Uma e outra vez. Tão igual que não sei porque insistes em tentar que se torne diferente.
Ninguém consegue ouvir o silêncio.
Ninguém consegue ver o que não existe.
Não aqui, na intersecção de coisa nenhuma.
Quero decorar-te os contornos. O brilho de um olhar rasgado em sorriso. A forma como te aproximas, decidida; o passo de quem esqueceu a insegurança numa esquina do passado.
Quero decorar-te as palavras. Soltas, incisivas; o discurso de quem não conheceu tempo perdido. Só este instante e aquele e todos os outros. Sem margem a dúvidas.
Quero redescobrir-me nesta nossa dança, em que me permites liberdade; em que cedes o espaço. Em que o amor é possível.
Foi assim que me despi do pensamento mágico. Joelhos junto ao peito, pernas cruzadas, mãos dadas entre si. Aninhei-me o melhor que pude, recortada de encontro ao vazio que deixaste no colchão.
Foi assim, coberta de lágrimas, que esperei a tranquilidade da noite que não chegou.
Foi assim até que o silêncio engoliu as dúvidas e a manhã despertou na certeza da solidão.
Não imaginava eu que a Filosofia viria a ser um bote salva-vidas. Não aos 16 anos, quando a estudava oficialmente e ainda que a Lógica me fascinasse.
O meu regresso à Filosofia surgiu de uma necessidade de estrutura mental. Da sensação de vertigem num mundo ao qual não sei dar sentido.
A maior paz que consigo sentir, à falta de uma qualquer religião, está nos períodos de leitura matinal. Nos estóicos encontro a leveza que me falta.
Sinto-me aluna oficiosa. A falhar, de forma repetida, nas tentativas várias de a aplicar à vida... mas foi o que me permitiu fugir ao algoritmo dos dias de hoje, decidindo deixar de jogar quando já não me interessa.
Don’t be a greater coward than children, who are ready to announce, “I won’t play anymore.” Say, “I won’t play anymore,” when you grow weary of the game, and be done with it. But if you stay, don’t carp. - Epictetus, Of Human Freedom
Setembro nasceu com as cores da saudade, enquanto eu vou aprendendo a existir comigo mesma. A deixar atrás a vida sonhada.
Ao entrar em casa penduro a ilusão como quem despe o casaco.
Cá dentro nada. Cá dentro tudo.
Há um cansaço na forma de pensar e uma necessidade por identificar.
Pudesse eu ser diferente de mim.
Como confiar em mim se não sei quem és?
Vinda da escuridão vi serpentinas coloridas a saírem-te da boca em cascatas de sonhos que nunca seriam vividos. Como confiar em mim? Ou num outro tu?
Das noites que me roubaram aos dias depois dos dias, o que fica são as dez toneladas de dor que me deixaste no peito.