Todas as mulheres que amei.
Sob o olhar sobranceiro de quem dirigia a turma trocavam-se bilhetes e borrachas, lápis ou afias, comentários ou risos transformados em sorrisos pelo silêncio imposto.
Da escadaria que parecia terminar à porta do primeiro andar da eternidade, o branco etéreo filtrado pela sua clarabóia inatingível, saíam patamares a cada lado. Era aí que esperávamos. Eram esses minutos, esse encontro, que faziam da escola o sítio onde queríamos estar. Até porque nenhum de nós precisava, de facto, de lá estar. Era a escola depois da escola. Era a magia dos arco-íris depois das paredes monocromáticas das manhãs repetidas.
Saindo de umas aulas a caminho de outras. Fugindo para salas com contrabaixos onde fingíamos ser músicos de jazz no meio da formação clássica. Escapávamo-nos para as salas de percussão onde aparentemente o ruído era permitido, desde que respeitados os silêncios entre ritmos. Trocávamos instrumentos, arranhávamos violinos e soprávamos em trompetes, com aquele que sabia o truque catalisador da sonoridade a aquiescer que “até nem estava mal”.
Foi nesses primórdios de vida e possibilidade, depois da sinfonia do modem a ligar-se à linha telefónica, que o teu correio chegou, à velocidade medida em KB. Chegou com o estrondo de uma bomba a cair no meio de outro local de impacto.
Uma mulher. No meio de outra mulher. Com outra que não era mais que uma miúda. A gerir coisa nenhuma. Uma declaração de amor, em código binário, que viria a alterar para sempre a vida vivida naquela escola. Foi o instante em que a música parou.